Maria Fumaça
A MARIA FUMAÇA conhecida popularmente na cidade por Maria Fumaça, A locomotiva a vapor n° 325, construída pela “Baldwin Locomotive Works” em 1911, foi tombada em 2003 como patrimônio material da cidade, por iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.. De modelo “Pacific”, foi importada dos Estados Unidos para o Brasil em 1918.
HISTÓRIA
Em 2003, a locomotiva a vapor n° 325, conhecida popularmente na cidade por Maria Fumaça, foi tombada e reconhecida como patrimônio material da cidade. Seu modelo é o “Pacific”, foi construída pela “Baldwin Locomotive Works”, em 1911. Foi importada dos Estados Unidos em 1918, com numeração 80 e circulava nas estações de Pitangui, Velho da Taipa e, posteriormente, em Bom Despacho. Segundo Sr. Werneck, a locomotiva foi importada por ser uma possante movida a lenha, carvão e água e atender ao crescente transporte de cargas e de passageiros.
A numeração que era 80 foi alterada para 151, e sua rota transferida para Ribeirão Vermelho, Lavras e Três Corações. Posteriormente, a E. F. Oeste de Minas adquiriu novas locomotivas e, por isso, segundo o Sr. Manoel Werneck, a numeração da Maria Fumaça foi modificada novamente, para n° 325, uma vez que as locomotivas mais possantes deveriam ter maior numeração.
Em 1977, contudo, a locomotiva n° 325 parou de circular, sendo substituída, como todas as outras, pelas de diesel-elétricas, mais potentes e econômicas. Diante disto, por vários anos a locomotiva ficou estacionada num galpão em Ribeirão Vermelho. Após grande período de chuvas na década de 1980, a Maria Fumaça, abandonada, ficou praticamente coberta pela água.
O ferroviário Sr. Manoel Werneck, antigo responsável pelo Museu Ferroviário de Bom Despacho, tentou resgatar a memória da Estrada de Ferro Paracatu. Seus esforços, somados a ajuda da Prefeitura, foram suficientes para trazer a locomotiva a vapor n° 325 de volta a plataforma da Estação Ferroviária de Bom Despacho.
Em 1996 foi firmado um convênio entre a Prefeitura Municipal de Bom Despacho e a RFFSA, estabelecendo empréstimo da locomotiva para fins culturais. Esta foi rebocada em um cargueiro de Três Corações a Divinópolis, com o objetivo de ser reformada nas oficinas da RFFSA.
A restauração foi dirigida cautelosamente pelo Sr. Werneck, em Divinópolis. A reforma durou 6 meses e contou com o envolvimento de vários profissionais da Rede, sendo algumas peças doadas pela própria RFFSA de Divinópolis. O restante dos gastos foram financiados pela Prefeitura Municipal de Bom Despacho.
Apos a restauração, em 1997, a locomotiva foi transportada para Bom Despacho e encontra-se estacionada junto a plataforma da Estação Ferroviária de Bom Despacho, fazendo parte do acervo do Museu Ferroviário da cidade.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BOM DESPACHO
A locomotiva faz parte da história de Bom Despacho devido a Estação Ferroviária, inaugurada em 21 de outubro de 1921 na cidade. A estação foi possível porque no mesmo ano a cidade recebeu a Estrada de Ferro Paracatu. Esta, por sua vez, foi uma substituição das estradas de ferro que ligariam Curvelo à Serra das Araras e de Pitangui a Patos. Esta estrada deveria cobrir o trecho que passa por Martinho Campos, Velho da Taipa, Bom Despacho, Dores do Indaiá, Carmo do Paranaíba, Patos, Alegre – no município de Paracatu -, finalizando na Serra das Araras, na divisa com Minas e Goiás.
HISTÓRICO DA ESTRADA DE FERRO PARACATU
A concessão desta estrada foi realizada através de um contrato datado em 31 de janeiro de 1912, firmado entre o governo e a Companhia Norte de Minas, empresa encarregada de executar a obra de construção da ferrovia. No entanto, as partes entraram em litígio e, em 1920, o Estado declarou caducidade da concessão, o que resultou na anulação do contrato. Para sanar a questão, firmou-se um acordo, pelo qual o Estado adquiriu todo o patrimônio relativo à Estrada de Ferro Paracatu, pagando à Companhia Norte de Minas um valor baseado em avaliação feita na época. Desta feita, as obras que estavam interrompidas foram retomadas no início da década de vinte.
Para contribuir com a construção da ferrovia, o governo estadual incentivou a formação de colônias de imigrantes, principalmente alemães. Portanto, neste momento, foram criadas as colônias de Álvaro da Silveira e David Campista.
A construção da ferrovia seguiu seu curso. De maneira sucessiva vários trechos e estações foram inaugurados. Em 1922 foi estreada a de Dores do Indaiá, seguida, em 1925 pela de Melo Viana. Todavia, ao atingir a Serra da Saudade, em 1927, concluiu-se que, devido a topografia local, a construção deste trecho seria mais dispendiosa, uma vez que exigiria a abertura de diversos túneis e grande movimentação de terra.
No início da década de vinte, a situação financeira do estado não era boa, da mesma forma acontecia com as ferroviais mineiras. Fato agravado com o advento da quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Neste contexto, a crise financeira atingiu o Brasil, baixando a produtividade, diminuindo o escoamento de mercadorias e, portanto, afetando o faturamento das empresas. Logo, surge no âmbito governamental a ideia de se unificar as administrações das companhias ferroviárias atuantes em Minas Gerais.
Em 1931, através de um contrato firmado entre Governo Federal e Governo de Minas Gerais, a Estrada de Ferro Oeste de Minas foi arrendada. Ficou decidido que a Oeste de Minas seria explorada técnica e financeiramente dentro de um aglomerado composto por três ferrovias: a Estrada de Ferro Paracatu; Rede de Viação Sul Mineira e a própria Oeste de Minas. Tal união foi denominada Rede Mineira de Viação. A partir daí, a Estrada de Ferro Paracatu se tornou Ramal de Paracatu. Em 1937, o trecho entre Melo Viana e a estação Barra do Funchal foi aberto. Este seria o último, pois a construção da ferrovia foi paralisada neste ponto e nunca mais foi retomada.
Em 1957, foi consolidado o processo de federalização ferroviária no Brasil. Formou-se a Rede Ferroviária Federal S. A – RFFSA, que encampou, entre outras, a Rede Mineira de Viação.
A ESTAÇÃO EM BOM DESPACHO
A Estação funcionou por vários anos na cidade de Bom Despacho. Atuou no transporte de cargas mas, principalmente, no embarque e desembarque de passageiros. Os anos vinte do século passado testemunharam o desenvolvimento experimentado na região, graças a ferrovia. Na mesma época foram construídos o Escritório Central da Estrada de Ferro Paracatu, galpões para alojamento de funcionários e oficinas de reparo das locomotivas, além da Vila Operária. O trecho correspondente ao Ramal Paracatu continuou a ser bastante utilizado, mesmo após a interrupção da construção da linha férrea.
Na década de 1960, a antiga estação, de arquitetura representativa das construções ferroviárias do início do século XX, foi demolida para dar lugar ao atual prédio da estação, mais moderno. A antiga cobertura de duas águas foi substituída pela laje plana. Sobre a plataforma, o telhado cerâmico sustentado por mãos francesas deu lugar à laje em balanço e diversas modificações foram feitas. Segundo relatos do ex-ferroviário, Sr. Manoel Werneck, a circulação de locomotivas permaneceu na Estação de Bom Despacho, por onde passaram várias máquinas movidas a vapor.
A Estrada de Ferro Paracatu foi de extrema importância para o desenvolvimento urbano, econômico, social e cultural da cidade. À título de exemplo, é interessante citar que vários congadeiros chegaram ao município através da estrada de ferro. Para a população local, foi motivo de muita alegria a chegada da Estrada. Em 10 de junho de 1920, o “Minas Gerais”, órgão oficial do Governo de Minas, publicou a seguinte notícia:
“Em solenidade popular bastante concorrida foi feita a demarcação do local onde será construída a Estrada de Ferro Paracatu (…). Houve um jogo de futebol (…). Após o jogo o povo seguiu a cavalo para a fazenda do Sr. Francisco Marques Gontijo, para um jantar e um copo de cerveja”.
REFERÊNCIAS:
Processo de tombamento da Locomotiva n° 325. Carolina Moreira.