Na foto, a aluna Valentina Rosado de Oliveira, da Escola Coronel Praxedes
Os mais de quatro mil alunos da rede municipal de ensino de Bom Despacho passarão por um estudo observacional sobre intervenções na educação para higienização das mãos e seus impactos pedagógicos, sanitários e econômicos. A pesquisa, coordenada pela docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), MSc. Cynthia Nara Pereira de Oliveira, e pela docente da Una Unidade Bom Despacho, integrante do Ecossistema Ânima, Dra. Amanda Luisa da Fonseca, tem previsão para início em março e será publicada no início do próximo ano.
Durante todo o período letivo, todos os alunos receberão intervenções na educação sobre higiene de mãos. Entretanto, uma parte amostral dos alunos receberão, além da intervenção na educação, dois produtos importantes para higiene das mãos: sabonete líquido e gel antisséptico. Espera-se com o estudo reafirmar a educação como sendo uma medida eficaz para reduzir a disseminação de doenças, melhorar a saúde dos alunos e colaboradores das escolas, diminuir as faltas escolares e gerar economias substanciais nos gastos públicos com tratamento de enfermidades.
As pesquisadoras explicam que as 16 escolas de Bom Despacho serão divididas em dois grupos: um grupo que receberá a intervenção na educação sobre higiene das mãos e receberá os produtos de higiene das mãos para uso pessoal durante todo ano letivo; e um grupo que apenas receberá a intervenção na higiene das mãos. Ao longo do ano, serão comparados os números de abstenções de alunos e funcionários por motivo de doença nos últimos anos das escolas, assim como serão coletadas informações sobre saúde e hábitos de higiene de mãos dos alunos participantes fora e dentro de seu ambiente familiar. “Estudos demonstram que a higiene das mãos têm relação direta com notificações de doenças gastrointestinais, virais e infecciosas. Durante a pandemia da Covid-19, desenvolvemos um gel para assepsia de mãos, não inflamável e seguro para peles sensíveis, como as das crianças. Além de mais seguro, nosso gel para assepsia de mãos tem efeito residual maior que o álcool em gel e, também, um espectro de ação maior. Isso significa que além de maior tempo de ação a superfície das mãos, nosso produto foi capaz de eliminar um maior número de microorganismos que causam doenças quando comparado ao álcool em gel”, explica Dra. Amanda Luisa, professora da Una.
Para além dos benefícios, o gel de assepsia é seguro por não ser inflamável, pois não possui álcool ou outras substâncias em concentração inflamável na sua composição. Durante o período de maior utilização do álcool em gel durante a pandemia, muitas crianças sofreram queimaduras e acidentes domésticos devido a volatilidade e inflamabilidade do álcool que precisou ser frequentemente utilizado.
As professoras e pesquisadoras afirmam que o gel desenvolvido possui nanopartículas naturais de biocidas e foi desenvolvido para peles sensíveis, como a pele das crianças. As escolas também receberão sabonete líquido desenvolvido para peles sensíveis, como parte primordial e indispensável para a higiene das mãos.
A secretária municipal de educação, Gabriela Fernandes, ressalta a importância de se definir técnicas e cultura de higienização das escolas junto aos colaboradores responsáveis pela limpeza para que isso reflita nos alunos e suas famílias. “Durante todo o ano vamos realizar reuniões, aulas e workshops com o tema de higiene das mãos nas escolas municipais participantes de forma sistemática, desenvolver materiais didáticos em formatos digitais e audiovisuais sobre competências, com linguagem simples e moderna, capazes de estimular o interesse e facilitar a compreensão das crianças e adultos. A intenção é que esses hábitos comecem na escola, mas ultrapasse o ambiente escolar, chegando até as famílias”, revela.
Estatísticas
Dados epidemiológicos do Brasil revelam preocupantes índices de infecções em crianças pelo ambiente educacional, com uma estimativa 55,3% de prevalência de infecção que leva à quadros de diarreia aguda. Além disso, infecções respiratórias agudas também se mostram como uma séria ameaça à saúde infantil, sendo responsáveis por 25% a 33% das mortes em crianças pré-escolares no Brasil. O perfil da distribuição epidemiológica das notificações de infecções respiratórias e gastrointestinais apresentados pelo município de Bom Despacho nos últimos dois anos evidencia a vulnerabilidade do grupo constituído por crianças menores de 11 anos de idade. A infecções transmissíveis na infância ganha considerável importância não apenas devido aos problemas de saúde que são consequência, mas também devido à sua associação frequente com condições como diarreia crônica e desnutrição. Esses fatores podem resultar em consequências graves, incluindo déficits físicos, cognitivos, e até mesmo a mortalidade. O aumento dessas doenças em crianças institucionalizadas está associado a fatores como aglomeração, contato próximo com outras pessoas e, especialmente, hábitos que facilitam a disseminação de doenças, como levar as mãos e objetos à boca e a falta de higiene das mãos.
Essa rotina de descuido tem consequências para além da saúde, com prejuízos na formação pedagógica, pelo absenteísmo escolar causado pela doença, e nos gastos públicos destinados a tratar estas doenças. Além disso, as crianças infectadas funcionam como vetores e contaminam também outros indivíduos, como pais, irmãos e funcionários das creches e escolas, que, por sua vez, transmitem o agente adiante.